O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou, nesta terça-feira (6/6), a nota “Retrato dos rendimentos do trabalho”, de autoria do pesquisador Sandro Sacchet. A análise mostra que os rendimentos habituais reais médios do trabalho aumentaram 7,4% no primeiro trimestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado, apontando a desaceleração da recuperação da renda. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo registra renda média habitual real de R$ 2.900 no primeiro trimestre deste ano, muito próximo aos R$ 2.910 observados em dezembro de 2019, período imediatamente anterior à pandemia de Covid-19.
O rendimento habitual é aquele recebido por empregados, empregadores e trabalhadores por conta própria, mensalmente, sem acréscimos extraordinários ou descontos esporádicos, ou seja, sem parcelas que não tenham caráter contínuo. As estimativas mensalizadas elaboradas pelo Ipea mostram que o rendimento habitual médio real em abril deste ano (R$ 2.909) foi 0,5% menor que o observado no mês anterior (R$ 2.923) e 0,6% menor que o registrado em dezembro de 2022 (R$ 2.928). Em contraste, a renda efetiva cresceu 7,1% no primeiro trimestre deste ano na comparação com o primeiro trimestre de 2022.
Com a estabilidade da renda e a cessação do aumento da população ocupada no primeiro trimestre deste ano, a massa salarial alcançou R$ 279,2 bilhões, ou seja, 10,8% maior que no mesmo trimestre de 2022. O crescimento para a massa efetiva real foi de 10,5%, alcançando a soma de R$ 304,3 bilhões. Já na desagregação salarial por grupos demográficos, a renda efetiva apresentou os maiores aumentos nas regiões Centro-Oeste e Nordeste no primeiro trimestre deste ano (10% e 8,1%, respectivamente), em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os maiores aumentos na renda foram registrados entre os trabalhadores jovens adultos (faixa etária de 25 a 39 anos) e com ensino superior. Nenhum grupo demográfico de trabalhadores apresentou queda na renda, porém, o crescimento foi menor para quem mora no Sul e em regiões não metropolitanas, tem mais de 60 anos, ensino fundamental completo e é chefe de família.
No corte por gênero, os rendimentos efetivos e habituais recebidos pelas mulheres, que tinham desempenho inferior aos dos homens nos últimos trimestres, apresentaram, um crescimento interanual maior que o masculino (7,7% contra 7,3% da renda habitual e 7,5% e 7% da renda efetiva) no primeiro trimestre deste ano. O autor analisou os rendimentos por faixa de renda e concluiu que, no primeiro trimestre deste ano, todas as faixas de renda domiciliares apresentaram um crescimento de renda efetiva acima de 5%, confirmando a consolidação da recuperação da renda neste período.
Na análise por tipo de vínculo, no primeiro trimestre do ano, trabalhadores do setor privado com carteira tiveram o menor crescimento no rendimento (elevação da renda habitual e efetiva de 4,1% e 4,5%, respectivamente). Ao passo que os trabalhadores do setor público registraram elevação da renda neste período, com alta de cerca de 5,5% da renda habitual. Por sua vez, os trabalhadores informais foram os que tiveram o maior aumento da renda efetiva, com acréscimo de 8,9% para os trabalhadores por conta própria e de 14,7% para os sem carteira. A proporção dos domicílios sem renda subiu de 22,1% no último trimestre de 2022 para 23,5% no primeiro trimestre desse ano, reflexo em parte da maior taxa de desemprego que se observa no início de ano.
No comportamento da renda por setor de atividade, os mais informais e mais atingidos pela pandemia, são os que agora mostram crescimento da renda (agricultura, comércio, serviços pessoais e coletivos, alojamento e alimentação). Ao passo que setores mais formais como administração pública, educação, saúde e indústria, apresentaram menor elevação da renda habitual ou efetiva. Entretanto, já há sinais de menor crescimento da renda em setores bastante informais como construção e transporte.
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